sexta-feira, 7 de junho de 2013

Não se faz mais pessoas como antigamente


Há mentirosos, caminhada fatal na calada da noite, faca na mão de primogênito, olho na herança. Há agressores, ameaçadores doídos por uma nota baixa que ele mesmo tirou, jogadores de cadeira e destruidores de futuro. Há ausentes de responsabilidades, pessoas sem tempo para nada, geradores de filhos criados por babá. Há falsos sorrisos, abraços fracos, ligações perdidas e sensação constante de solidão. Há um reflexo distorcido do que você acha que deveria ser, frustração fabricada, insegurança e auto-estima rasteira. Há corpos desesperados por uma atenção duvidosa, donos de um movimento falso-feminista equivocado, perdidos. Há um rebanho seguindo um péssimo hábito de cultivo intenso ao corpo e desgaste cognitivo natural, portadores de um peitoral enorme que só guarda reflexões instantâneas, cada vez mais fasttalkHá socos e pontapés. Términos por falta de interesse na solução, preguiça e alta rotação. Há fotos no facebook, cobranças no whatsapp e nenhuma interação cara-a-cara que faça reconhecer aqueles dois nas declarações profundas da internet. Há crianças agindo como adultos e adultos com temores infantis. Há quem grite apoio por causas animais. Só. Há quem levante a bandeira do "bem feito" ao presenciar a justiça sendo feita pelas mãos de um outro. Há quem se compara, inconscientemente, ao acusado no segundo que sente prazer ao vê-lo sofrer. Há quem não acredite nos Direitos Humanos. Há psicopatas sociais sentados ao seu lado. Há mentiras brancas, tapa-olho e hipocrisia. Há quem curte o fingimento, atualiza diariamente suas ilusões e mente para si mesma. Há insatisfações patológicas, agressões verbais gratuitas e apologia ao bullying. Há quem acha uma bobagem essa coisa toda ao redor dos menores infratores. Há gente com cansaço para mudar de opinião, regendo o mundo através de empurrões ignorantes, reflexo de sua vivência rasa. Há muita indignação, descrença no outro, mortes rápidas, sentimentos efêmeros. 

Há tanta saudade.

Há saudade de um carinho amoroso, falta do olhar de um bichinho de estimação, da certeza de que podemos confiar. Há saudade de ruas mais tranquilas, de problemas mais distantes e gente de verdade. Há saudade da verdade. Há saudade das festas no playground e das gincanas no colégio. Há saudade do colégio que era, realmente, a segunda casa. Há saudade dos porteiros e das aulas de educação física. Há saudade da formatura e da infância. Há saudade de ir em frente. Há saudade de não ter medo. Há saudade de quando todo mundo era mais presente, da piscina e do peixe frito nas praias. Há saudade de quando todo mundo se amava muito, se preocupava com os outros e TAMBÉM com os animais. Há saudade de quando sem maquiagem era bonito e ninguém sabia se maquiar. Há saudade de quem se foi, mas ainda permanece. Há saudade de quando pai e mãe era respeitado e fazia jus a esse respeito. Há saudade de quando havia mais fé. Há saudade da leveza.

Que planeta adoecido esse que vivemos. Eu sou, muitas vezes, objeto de repúdio para mim mesma quando me percebo caindo na armadilha desses maus pensamentos. E me sinto, quase sempre, uma estranha no meio de tantas pessoas conformadas. Mas não posso deixar que o patológico se torne algo natural e vou persistir no meu pequeno território. Onde eu piso há muita reflexão. Onde eu caminho há muitos arrependimentos e pequenos concertos. Onde eu ando não é permitido auto-ofensas e "pensar melhor" é sempre o melhor trajeto a ser seguido. Onde eu estou há pausas. Às vezes, há rancor. Mas há, mais ainda, muitas chances.

Há tanta esperança...


Um comentário:

  1. Ainda há muitas chances, que saudade de não ter medo e de seguir em frente! Acho que estou fraca!
    Ainda há esperança!
    Adorei..
    Consegui me identificar nesse texto! Cada dia que passa me torno ainda mais sua fã! te amo!
    Biu

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