terça-feira, 20 de agosto de 2013

Síndrome do ninho vazio: a visão de um passarinho


Algumas planejaram por anos, muitas outras receberam de bom grado a surpresa. Muitas delas, sozinhas, ajeitaram todo o ninho com os melhores galhos, escolheram uma bela árvore e pediram sabedoria para uma perfeita estruturação. Outras, acompanhadas – seja lá de quem -, receberam uma ajuda extra e conheceram a gratidão. 

Todas elas rezaram, dia após dia, para a chuva não ser torrencial, para o ninho aguentar firme, para o vento não balançar tanto a árvore que os abriga e para as suas crias ficarem invisíveis às águias da vida. 

Quanto às asas, essa não foi uma parte racional. Toda mãe pássaro que se preze sonha com uma asa de anjo nos seus filhotes. Toda mãe pássaro pensa em um perfeito voo livre, mas, por favor passarinho, retorne ao ninho. Não precisa ser imediatamente, nem hoje ou amanhã, mas precisa ser algum dia. 

A mãe pássaro que ama seu filhote mais do que cada pena que brotou no seu corpo pequeno, penas essas que a ajuda a acompanhá-lo nos ares do destino, um dia ensina ele a voar. Mas a mãe pássaro nunca sabe o quanto seu filhote vai alcançar. 

Boa parte deles só sabe voar ao redor do ninho. Eles vão apenas até onde os olhos de sua mãe conseguem alcançar. Mas há uma parte desses passarinhos que precisam ir mais longe. 

Há alguns passarinhos que foram criados por mães grandiosas que não sabem o quanto impulsionam seus voos. Quando dão por si, não há mais sinal do seu filhote. Eles voam em uma linha reta, olhos fixados e asas firmes, enquanto suas mães ficam para trás, recolhidas no ninho agora vazio. 

Mamãe passarinho, acalenta seu coração. Eu sei que o frio na espinha é de preocupação, que o coração gelado é tanto zelo destinado ao ser super amado. Chora não, mamãe passarinho, seu filhote está voando alto e foi você que ensinou cada batida de asa. Chora não, mamãe passarinho, que sua cria foi crescer no mundo porque você acreditou nele mais do que todo mundo. Foi seu sopro de coragem que o fez voar. Então não chora, dói no passarinho vê-la esconder-se no ninho. 

Um dia, mamãe passarinho, o seu filhote voltará e pousará com perfeição na beirada da sua casa e você irá recebê-lo para um café, enquanto escuta as histórias que só ele passou. Perceba, mamãe passarinho, que você o preparou muito bem e que o seu ninho, antes esvaziado pela saudade, agora é palco para um artista da vida. Aplauda o seu passarinho que não se enganou com os lobos da floresta, que por mais feia que fosse a paisagem embaixo de suas asas, nunca se deixou levar e continuou seu voo em busca da felicidade. 

Hoje, o seu passarinho segue vida quase sozinho. Não totalmente, pois você está nele. No jeito que ele varre o seu próprio ninho, no jeito que ele escolhe as pessoas que deve se relacionar e no jeito que ele pensa sempre em você diante de uma adversidade: “o que minha mãe faria ou me diria para fazer agora?”. 

Mamãe passarinho, o seu ninho, na verdade, nunca esteve vazio, foi você que se deixou esvaziar. Não deixe escorrer pelos olhos o orgulho que serve para inflar seu peito. Olha só que belo passarinho você criou! 

Para os passarinhos que voaram cedo demais, para os que decidiram ficar, para aqueles que estão na presença da mamãe pássaro e para aqueles que viram a vida levá-la antes de estarem prontos, o ninho, agora, está internalizado. Dentro do seu peito mora um emaranhado de galhos finos que servem para proteger a sua coragem diante da vida. Explore-o com cuidado, saiba como utilizá-lo, não desfaça o seu ninho. Afinal, é preciso saber sempre para onde retornar.

Um beijo,
Passarinho.


*Minha crônica publicada na primeira edição da revista ABRE ASPAS, Riachão de Jacuípe, sobre mães que vivem a saudade dos filhos que vão estudar nos grandes centros urbanos.

Um comentário:

  1. Oi Isadora,
    Parabéns!!!!!!Adorei!!!!! Leve, bem escrito , clara, traduziu o que acredito que as mães sentem. Bjo Adoreeeeiiiiiiii. Cristina Campos.

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