terça-feira, 2 de julho de 2013

Você sabe quem é o seu inimigo?

Você passará uma vida inteira, após a primeira decepção, procurando um algoz. Determinará, em cada vacilo de outrem, quem te importa e quem pode ficar para trás. Deslizará entre todos aqueles que atravessarem seu caminho com seus julgamentos intactos, muito bem resolvido com suas reflexões. Permanecerá fiel à sua mente inquieta, ao seu orgulho rochoso. Quem merece sua retórica? Quem alcança o seu perdão?

Caminha sobre pedras que você mesmo encaixou, forma, sob seus pés, uma trilha empoeirada de arrependimentos e lembranças que nunca te deixam ir totalmente além, muito menos reconhecer a necessidade de retroceder.

Aponta suas opiniões em uma linhagem cautelosamente imperativa. Ordena os seus passos, os outros passos, quem passa e quem já passou. Esconde seu rabo entre as lamúrias de um ser desajeitado, convicto de suas próximas pegadas, mas totalmente alheio ao processo de caminhar. 

Baterá o telefone como quem bate no rosto de um criminoso. Alçará pensamentos negativos por aquele que te deu amor. Desistirá de planos por falta de merecimento, negará abrigo a quem te abrigou. Ainda assim, inflará o peito de medos e fingirá uma coragem fragilizada, puro carnaval. Perseguirá todos os monstros em pessoas específicas, quebrará todos os vidros que protegem suas jóias, tudo em nome da moral. 

Vira oceano quando precisa da profundeza fria de sua zona abissal. Vira lago ao deparar-se com a necessidade impulsiva de voltar às suas origens. Transforma-se, rapidamente, em vento quando precisa ir embora. Quero ver se transformar em árvore: fincar raízes e permanecer. Aguentar a ventania, o abandono de suas folhas, o nascimento dos seus frutos, o furto dos seus galhos, os pássaros que te golpeiam e ficar ali.

Adianta? Adianta correr uma vida inteira atrás dos malfeitores quando o monstro mora em você? Adianta deixar-se sabotar na tentativa pífia e covarde de culpar os outros? Não pode ser tão doloroso assim olhar para dentro. Ou não deveria.

O destino do acusador é sempre a solidão. No fim de todos os dedos apontados, nem você sobrará. Tornar-se sincero consigo mesmo é o primeiro passo para viver em paz. Tornar-se sincero com os outros, é o primeiro passo para o paraíso. 

É importantíssimo descobrir quem é o monstro na sua frente. Mas nunca esqueça: você também é o monstro de alguém.




Um comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...