quarta-feira, 22 de maio de 2013

O amor é uma vitrine

Quando eu nasci, o amor tinha cheiro de leite e de colchão. Ele tinha uma atmosfera de cansaço, mas de muita gratidão. Ele funcionava 24 horas e parecia, realmente, ler os meus pensamentos quase sempre.

Quando eu fiz 1 ano, o amor era uma festa muito grande e exagerada, cheia de adultos, que me deu muito sono.

Quando eu fiz 2 anos, o amor queimou o meu pé. Ele era um pouco desastrado comigo, pois eu estava crescendo rápido demais e tomando minhas próprias decisões. O amor estava passando de gratidão para preocupação.

Quando eu fiz 3 anos, o amor começou a ter cara de quebra-cabeça. Na escola eu descobri que a pró também me amava um pouquinho, aí eu soube que o amor também morava fora de casa.

Aos poucos eu fui percebendo que o amor não era uma coisa só, muito menos privilégio da minha família. Quando eu fiz 7 anos e entrei em uma escola maior, eu descobri que podia fazer amigos e que nos amigos também tinha amor.

Quando eu fiz 13 anos, eu descobri os meninos e descobri, também, que às vezes a gente jura que tá amando, mas no fim, não está.

Com 15 anos, eu achei que tudo ia mudar, pois todo mundo dizia que eu viraria uma mocinha. Não mudou nada, eu só fiz 15 anos. Porém, comecei a duvidar do meu amor por mim mesma. Era muito difícil ser eu e, por isso, eu e o amor acabamos brigando.

Eu comecei a perceber que amor não era mais colchão. O amor não estava mais disponível para mim quando eu quisesse. Eu comecei a perceber que alguns amigos, uma das casas do amor, eram mentira e que, mesmo eles sendo mentira, o meu amor chegava até eles, ainda que encontrasse uma casa vazia. 

Eu fui descobrindo, muito devagar, a cada parada, que o amor, inúmeras vezes, é só uma gotinha do oceano. Que tem dia que a gente promete de pé junto: "Deus, é só ele que eu quero para toda a vida!" para um ano ou um mês depois agradecer sua partida.

Descobri também, por vezes rápido demais, que a gente também erra na dose de amor próprio. Que eu não devo nunca me amar demais, para não correr o risco de parar de evoluir, nem nunca me rogar pouco amor, para não correr o risco de estagnar na escuridão. 

Eu saquei, só por agora, que o "te amo para sempre" é uma bobagem! O amor vive no agora. Eu te amo hoje e espero te amar amanhã, mas isso depende da gente, não é? O amor é um instante tão curto que mais parece uma virada de cabeça entre uma discussão e o nunca mais.

Com 19 anos, eu descobri que amava a Psicologia de um jeito muito pessoal. Não para exercê-la (quem sabe?), mas para apreciá-la. Eu descobri que amo as pessoas de uma maneira frágil, mas eu amo. Eu amo a forma como elas são diferentes e como elas me proporcionam um entendimento cada vez mais eficaz da vida. Eu amo até quando elas me desapontam, mas só depois que a minha dor passa e eu entendo que cresci depois daquilo.

Com 21 anos, eu descobri que o amor nunca foi coisa de super-herói e que é sempre importante perdoar um segredo do passado. Aliás, eu descobri que existe muito amor no perdão quando eu descobri que tinha dificuldade em perdoar.

Eu me senti mulher pela primeira vez e vi uma brecha da necessidade que eu tinha em me amar um pouco mais. Eu estava extremamente negligente comigo mesma e tinha a ver com o amor. Eu era faltante, um buraco moribundo  preenchido por uma casca simpática.

Eu achei um pouco de amor na terapia. Achei um pouco de amor nas amigas de verdade. Achei um pouco de amor em alguns membros da minha família. Achei um pouco de amor nas minhas escritas e nas minhas fotos. Achei um pouco de amor nas minhas viagens e nos textos que eu lia.

Agora, com 23 anos, eu achei muito amor na dúvida e no prazer de não saber para onde ir. Lógico que há confusão e receio, mas há muito amor nas possibilidades. Encontrei um amor maduro que está ficando, encontrei um amor sólido em vocês que ficaram, encontrei um amor nostálgico em tudo que se foi e um amor de esperança para o que virá.

Ando descobrindo que o amor é ridiculamente fácil de encontrar. Eu vejo amor quando minha filha de quatro patas me olha nos olhos, quando eu penso em ser mãe, quando dou uma nova chance a qualquer pessoa, quando dou bom dia e me respondem e quando quem eu amo diz que eu estou bonita.

O amor, eu acho, é só memória e contato imediato. Dá para guardar no bolso e escolher a quem ofertar. Mas precisa escolher direito, pois amor barato dá retorno barato e eu sou valiosa demais para me vender assim.

3 comentários:

  1. Parabens princesa...amei demais seu texto...realmente o amor eh sublime e inerente ao ser humano...cada um expressa e sente de umabforma muito particular. Lindo lindo...amei. Te amo meu amor

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  2. Parabéns, Xu, mais um texto lindo e verdadeiro, obrigada pelo deleite !!

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  3. Lindo texto ! Parabéns... O AMOR, é uma benção que alimenta e nos fortalece, em todos os momentos da vida !Existe o AMOR efêmero, que atende o nosso chamado e muito cedo, vai embora sem nem pedir licença...r.s. chamo de "AMOR COMETA"...E o "AMOR ESTRELA" = LUZ PRÓPRIA : SÃO OS NOSSOS FAMÍLIARES,( os que nos permite identificar ),OS AMIGOS LEAIS ;DEVEM SER GUARDADOS NA MENTE,E NO CORAÇÃO E NOS NOSSOS OUTROS ARQUIVOS.Bjo.

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