sábado, 26 de outubro de 2013

Amor à vida... Tem certeza?


Eu adorava a novela Amor à Vida - sou noveleira mesmo - mas de uns tempos para cá ela vem se tornado ridícula!! Existe uma homofobia velada na trama que transforma "milagrosamente" todos os gays em machos pegadores! Até Félix, o mais afetado do elenco homossexual de personagens, volta e meia dá umas pegadas na ex-atual esposa e cairá, mais tarde, nos braços da médica. Heron, o gay casado, após anos de relacionamento cai de amores por uma médica HIPÓCRITA, extremamente desequilibrada e a trai, sem pudores, em sua própria casa. Fora a exagerada parcimônia daquele Bruno, marido de Paloma, que é tão macho e correto em 90% da sua vida, mas não consegue dar uma dura resposta à altura das investidas de Aline, a feiticeira, e fique parecendo um adolescente quando a madrasta da esposa banca o mulherão. Pera aí, né??? E Pilar? Eu não duvido nada que após todas as maldades de Aline, César volte como vítima para a mansão dos Cury e Pilar estará lá, submissa, traída e orgulhosa pelo retorno do provedor. Sem contar com a pobre da Perséfone, que vive a vida de uma "gorda frustrada" que entrou na vida adulta completamente virgem. EM QUE MUNDO ESSE POVO VIVE? Aí ela encontra o tal do príncipe, que aceita, em menos de um mês, o conto de fadas fake que ela propõe, casa com a mulher que ele nem cogitava ter algo a mais e, em três dias, já está arrependido e quer que ela vire magra. Príncipe esse que enfrentava todos os preconceitos que sua irmã Linda, uma autista, vivia e peitava todos que duvidavam de sua capacidade ou a inferiorizavam. ESSE príncipe não consegue lidar com uma esposa acima do peso? JURA? As piadinhas são PIORES do que a discriminação que sua irmã sempre viveu? Não concebo! E ontem foi o estopim, para mim! A querida enfermeira, mãe do palhaço QUE É UM PALHAÇO MESMO, apresentaaaaaando maquiagem para pacientes com câncer. O que eles querem dizer com isso? Que eu saiba, mulheres que são acometidas por essa doença não tem sua capacidade cognitiva atingida. Elas não sabem o que é um blush?? Como e onde passá-lo? 

Tem a tal da Tetê que é a contradição em forma de mulher. Obriga a filha a casar com o "milho" e, mesmo vendo sua cria aos prantos por amar outro homem, bate o pé que um dia ela se acostuma com a vida que ela escolheu pra ela. Em compensação, não larga seu Gentil. Um "mendigo", com os bens todos congelados, cafajeste, mentiroso. E o principal: quer ele com ela, vendendo hot dogs, grita para quem quiser ouvir que não quer o seu dinheiro, muito menos que ele a sustente, pois "comprou a casa com o seu próprio suor e tem muito orgulho disso". OI?

E a filha de 1820 do dono do bar? A santinha da atualidade. A mulher burra véia, com a mãe mais rodada que noticia ruim, cheia de segredos familiares! 

A novela toda é um exagero. 
Ensina que os gays tem "cura", basta uma super mulher cruzar o seu caminho.
Ensina que as mulheres precisam colocar a estrutura de um casamento antes do que tudo, até dos seus princípios. E que não importa se o seu marido a traiu com sua secretária, a engravidou, largou você depois de uma transa e casou com ela. Você deve ter a esperança do seu retorno e se sentir grata caso isso aconteça.
Ensina que estar acima do peso é a pior coisa que pode acontecer com você.

EU SEI que novela é ficção. Que os autores tem todo direito de criar o que quiserem, mas eu me preocupo pelo poder de persuasão das tramas que assistimos em pessoas mais desavisadas. Tem gente que acredita naquilo, que segue, que se inspira. 

Aí eu te pergunto... AMOR À VIDA? Me apresente alguém ali que ama a vida que tem. 

Pois é, ninguém.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Pelo direito de falar


"Você está me analisando?"

Há cinco anos eu adentrava uma sala de aula e dava meus primeiros passos rumo à psicologia. Por cinco anos, me dediquei completamente a uma profissão que me enchia os olhos. Eu sentia orgulho de pensar que, em alguns anos, eu me tornaria um deles. Estudava com afinco todos os livros que me passavam, todos os textos e artigos científicos. Fiz todas as provas e trabalhos visando tornar-me aquela que teria o dom das palavras. Eu lapidei minha mente, treinei meu respeito ao próximo, quebrei milhões de barreiras, tudo isso para olhar para os outros com mais curiosidade, menos julgamento. Eu estreitei minha relação com os amigos e com minha família. No fim da jornada, eu me sentia realmente preparada, pelo menos para começar.

Formada, eu ouvi diversas vezes falas tão chatas ao meu respeito. Eu acredito, de verdade, que muitos profissionais de outras áreas sofrem alguns preconceitos, mas com nós, psicólogos, o buraco é tão embaixo que eu sequer entendo de onde ele possa vir. Ou até entendo, mas prefiro fingir que não o vejo.

Eu já ouvi dentistas falando que em casamentos sempre tem alguém que o aborda para dizer que está com uma dor no dente há meses "o que será que deve ser?", perguntam entre uma drinque e um bem-casado. Já conheci médicos que não revelam suas profissões em uma roda de bar para que não se inicie aquela velha e chata consulta coletiva. Ou até os pobres advogados, sempre recebendo ligações de queridos amigos com dúvidas sobre uma lei ou um processo. Eu entendo essa chatice, mas percebo que todos pecam pelo excesso. Eles confiam em seus cargos e querem que façam hora extra.

Com os psicólogos é diferente.

Percorremos um longo caminho e aprendemos sobre o poder da cura pela palavra. Somos treinados, como em um exército, a apurar nossa escuta e dar um valor absurdo a tudo que é dito. Somos ensinados a interpretar, a nunca entrar em contato com o sofrimento do outro de maneira irresponsável. E o que acontece quando descobrem que somos psicólogos? A censura.

Eu sinto um extremo pudor de alguns em ter uma conversa informal comigo e fazem a célebre pergunta "você está me analisando??" quando emito uma opinião, como se isso fosse um crime. 

SIM. Eu, como psicóloga, provavelmente vou analisar o que você está me dizendo. É isso que eu faço! Foi para isso que eu estudei. Assim como você nunca fará um exercício errado na academia sem que um educador físico o corrija. NÃO. Isso não significa que estou te colocando em uma terapia-forçada-temporária. Isso só significa que minha opinião sobre o que me dirá nunca será preguiçosa. 

No início, me sentia mal por ouvir: "Deus proteja quem namorar uma psicóloga!". É tão ruim assim conversar com alguém que realmente goste dessa atividade? O receio que alguns tem de que eu os analise me parece sintomático e, sim, estou analisando eles agora. 

Não me sinto responsável pela melhora de ninguém, mas se você, meu caro, sentar ao meu lado e quiser conversar, não posso te ouvir despida de quem eu sou ou de quem me tornei. Eu sou uma psicóloga e meu ouvido não é uma peneira: tudo que passa por ele vem no grosso, com mil sequelas, e eu me interesso por todos os detalhes.

Realmente, eu admiro quem se aventura a conviver com uma psicóloga informalmente. De fato, temos resposta para tudo e - normalmente - dominamos a arte da fala e da conversa. Mas você já parou para pensar que pode ser muito interessante conviver conosco? 

Não somos alienígenas nem leitores de mentes! Não temos intenção nenhuma de piorar uma situação ou prolongar uma discussão. Nos deixe falar! Muitas vezes reconhecemos que a melhor opinião é o silêncio. Nós também sabemos calar.

Não quero, com esse texto, atestar nenhum nível de superioridade da classe. Falo por mim, pelas minhas experiências. Não é ruim ter uma namorada psicóloga, ou uma amiga, filha, prima, o escambal! Aproveitem a oportunidade como todos aproveitam de outras profissões por perto. Eu também sei dar opinião informal, também sei ser amiga, namorada, filha e uma ignorante. Eu não sei ser SÓ psicóloga.

"Será que eu sou maluco?" "Você acha que ele é psicopata?" "Ela é bipolar, né?"

Todas essas perguntam só podem ser respondidas com acompanhamento. Todo psicólogo que respeite a profissão sabe que não é possível analisar ninguém pelo depoimento contagiado da mídia, por exemplo, ou após uma simples discrição de um caso na pizzaria. Eu quero poder abrir a boca sem que ninguém me veja do outro lado do divã, com um caderninho, exercendo a caricatura de algo que eu não tenho a pretensão de ser. 

Antes de ser psicóloga, eu sou Isadora. Também tenho opiniões com base no que eu vivi, no que eu experimentei, e não apenas no que li em livros ou exerci em terapia. Então...

"Eu posso falar?"

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Síndrome do ninho vazio: a visão de um passarinho


Algumas planejaram por anos, muitas outras receberam de bom grado a surpresa. Muitas delas, sozinhas, ajeitaram todo o ninho com os melhores galhos, escolheram uma bela árvore e pediram sabedoria para uma perfeita estruturação. Outras, acompanhadas – seja lá de quem -, receberam uma ajuda extra e conheceram a gratidão. 

Todas elas rezaram, dia após dia, para a chuva não ser torrencial, para o ninho aguentar firme, para o vento não balançar tanto a árvore que os abriga e para as suas crias ficarem invisíveis às águias da vida. 

Quanto às asas, essa não foi uma parte racional. Toda mãe pássaro que se preze sonha com uma asa de anjo nos seus filhotes. Toda mãe pássaro pensa em um perfeito voo livre, mas, por favor passarinho, retorne ao ninho. Não precisa ser imediatamente, nem hoje ou amanhã, mas precisa ser algum dia. 

A mãe pássaro que ama seu filhote mais do que cada pena que brotou no seu corpo pequeno, penas essas que a ajuda a acompanhá-lo nos ares do destino, um dia ensina ele a voar. Mas a mãe pássaro nunca sabe o quanto seu filhote vai alcançar. 

Boa parte deles só sabe voar ao redor do ninho. Eles vão apenas até onde os olhos de sua mãe conseguem alcançar. Mas há uma parte desses passarinhos que precisam ir mais longe. 

Há alguns passarinhos que foram criados por mães grandiosas que não sabem o quanto impulsionam seus voos. Quando dão por si, não há mais sinal do seu filhote. Eles voam em uma linha reta, olhos fixados e asas firmes, enquanto suas mães ficam para trás, recolhidas no ninho agora vazio. 

Mamãe passarinho, acalenta seu coração. Eu sei que o frio na espinha é de preocupação, que o coração gelado é tanto zelo destinado ao ser super amado. Chora não, mamãe passarinho, seu filhote está voando alto e foi você que ensinou cada batida de asa. Chora não, mamãe passarinho, que sua cria foi crescer no mundo porque você acreditou nele mais do que todo mundo. Foi seu sopro de coragem que o fez voar. Então não chora, dói no passarinho vê-la esconder-se no ninho. 

Um dia, mamãe passarinho, o seu filhote voltará e pousará com perfeição na beirada da sua casa e você irá recebê-lo para um café, enquanto escuta as histórias que só ele passou. Perceba, mamãe passarinho, que você o preparou muito bem e que o seu ninho, antes esvaziado pela saudade, agora é palco para um artista da vida. Aplauda o seu passarinho que não se enganou com os lobos da floresta, que por mais feia que fosse a paisagem embaixo de suas asas, nunca se deixou levar e continuou seu voo em busca da felicidade. 

Hoje, o seu passarinho segue vida quase sozinho. Não totalmente, pois você está nele. No jeito que ele varre o seu próprio ninho, no jeito que ele escolhe as pessoas que deve se relacionar e no jeito que ele pensa sempre em você diante de uma adversidade: “o que minha mãe faria ou me diria para fazer agora?”. 

Mamãe passarinho, o seu ninho, na verdade, nunca esteve vazio, foi você que se deixou esvaziar. Não deixe escorrer pelos olhos o orgulho que serve para inflar seu peito. Olha só que belo passarinho você criou! 

Para os passarinhos que voaram cedo demais, para os que decidiram ficar, para aqueles que estão na presença da mamãe pássaro e para aqueles que viram a vida levá-la antes de estarem prontos, o ninho, agora, está internalizado. Dentro do seu peito mora um emaranhado de galhos finos que servem para proteger a sua coragem diante da vida. Explore-o com cuidado, saiba como utilizá-lo, não desfaça o seu ninho. Afinal, é preciso saber sempre para onde retornar.

Um beijo,
Passarinho.


*Minha crônica publicada na primeira edição da revista ABRE ASPAS, Riachão de Jacuípe, sobre mães que vivem a saudade dos filhos que vão estudar nos grandes centros urbanos.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Eu sei...


Eu sei que é amor, pois você é um sorriso certeiro quando olho em volta a procura de apoio. Eu sei que é amor, pois você me faz caminhar junto com a verdade. Eu sei que é amor, pois minha vida tornou-se muito mais feliz depois de você. Mais leve também. Eu sei que é amor, pois você transformou tudo que era errado em certo e soprou um pó mágico de realidade em todos os meus sonhos. Eu sei que é amor, pois sinto gratidão quando percebo o sentimento que encontrei em você. É você que sustenta meu frágil edifício, que não me deixa cair e que me acompanha retirando do meu caminho todos os véus que tentam me cegar.

Eu sei que é amor, pois você é a minha força quando estou fraca. Todas as vezes que eu não consegui falar, você foi a minha voz. Todas as vezes que eu não pude enxergar, você foi meus olhos. Só você vê o melhor que há em mim e eu só quero mostrá-lo a você. 

Quando eu não alcanço, você me ergue. Eu tenho esperança porque você acredita! 

Hoje eu tenho asas que você me deu. É com elas que eu consigo voar. Quando você segura a minha mão, eu fico mais perto de Deus, pois quando eu perdi a minha fé foi você que a trouxe de volta para mim.

Quando alguém ama a gente, é fácil reconhecer. Aquele que te ama, não escolhe suas estrelas, ele te faz acreditar que absolutamente todas estão ao seu alcance. Aquele que te ama não te aplaude quando você cresce, ele te ajuda a ficar em pé. Você se sente especial por ter ele em sua vida, se sente realmente grata por merecer sua companhia. Talvez não saiba exatamente o quanto, mas sente o vento de bênção que arrepia sua alma quando ele chega.

Se você sentir isso por alguém, se existir alguém assim na sua vida, não o deixe seguir sem saber disso tudo. A gratidão é um sentimento onipresente, que não tem preconceitos, nem hora para chegar. Isso serve para o amor entre amigos, entre namorados, entre familiares e conhecidos. Dedique a ele essa prece:

"Por você dedico a minha vida a fazer o bem, pois por você quero ser melhor do que eu já fui. Obrigada por passar por mim feito vento de carinho. Obrigada por ser a luz que me impede de conhecer a escuridão. Obrigada por ser a minha inspiração e por me conceder a honra de ter o seu amor brilhando na minha história. Em meio a tantas mentiras, você é a minha verdade. O meu mundo é muito melhor porque você riscou seu nome nas areias do meu destino. Não me deixe nunca padecer sob as injúrias dos meus inimigos, nem fraquejar diante das falsas línguas que me chicoteiam. Eu sou mais forte do que eu penso e os outros são só os outros. É em você que eu me espelho e é por você que eu quero continuar. Se hoje eu sou poeira, é por amor que eu vou me juntar."

Sim, eu me basto. Mas levo na bagagem a humildade de que não posso seguir sozinha. A todos aqueles que me ajudaram em algum momento da minha vida, que secaram uma lágrima minha ou ouviram atentamente sobre uma das minhas fraquezas, meu profundo agradecimento! Vocês restauram minha fé no próximo diariamente.


terça-feira, 23 de julho de 2013

O relato de uma flor de gramado


É o tempo todo gente entrando na nossa vida. É sorriso dado, abraço, o prazer é meu, obrigada, até amanhã o tempo inteiro. São muitos encontros e despedidas também. Quantos "adeus" você deu no ano que passou? E quantos "bem-vindo"? 

A gente troca confiança toda hora. Transmite muita energia boa, mas muita energia ruim também. A gente acredita e se desaponta quase que diariamente. A gente reconhece os nossos. Oferece ajuda toda hora, atende telefone e responde a todos os chamados de quem a gente ama. E não adianta, eu sou daquele tipo de pessoa que o outro pode me derrubar com um desgosto... Se eu gostar dele, eu sei que vou ajudá-lo novamente. 

Só que no fim do dia, quando o sol vira escuridão, a gente sempre dorme sozinho. Mesmo acompanhado, a mente trabalha na solidão. No fim das reflexões só sobra a minha própria companhia, pois só eu consigo ficar quando penso em tudo. Ninguém tem o couro para aguentar meus pensamentos.

Quando o último raio do astro maior arranha minha janela, o meu quarto está quase sempre vazio. Quando a cidade silencia, minha cabeça vira carnaval. E de tanto pensar eu me arrependo. Me arrependo de idealizar pessoas que nunca vão chegar. Me arrependo de contar com gente que não sabe valorizar. Me arrependo, tanto, de esperar receber o que eu dou. 

Parece que no contar dos minutos de um dia inteiro, somos sempre aquela flor esquecida no meio de um gramado. Aquela que nasceu sozinha e luta, diariamente, para não ser pisada por qualquer distraído.        

E ao passar dos anos, a gente percebe o quanto nos sentimos estranhos por não nos encaixarmos em nada. No primeiro momento, parece que o mundo é que nos exclui. Depois a gente percebe que o mundo não existe, são as pessoas que são iguais. E a gente se separa de tudo.

O divórcio é passo necessário para desapegar das mazelas das relações pessoais. E quando falo em divórcio não me refiro a um pedaço de papel judicial, eu falo de posicionamento. Posiciono-me, agora, diante de você que não me entende, que não me aceita e que de mim se distancia, e proponho um acordo: vamos quebrar a ponte construída pela minha esperança em direção ao seu radicalismo e celebraremos a liberdade.

A liberdade de você ser você. A liberdade de me despedir, mais uma vez, de mim, sabendo que lá na frente me encontrarei novamente em uma era mais leve do que essa. Deixo, aqui, a pele morta das minhas frustrações e dou um passo mais fresco em direção a minha evolução. 

Você pode até não conseguir ler meus movimentos, mas eu interpreto facilmente a minha não vontade de voltar correndo para você.       

quarta-feira, 10 de julho de 2013

A odisseia do auto-controle


Pelo bem da moral e dos bons costumes, inventaram o auto-controle. Aprendi  que não posso revidar o coleguinha que estapeia minhas orelhas sempre que senta atrás de mim, pois é feio. Preciso falar com a professora e avisá-la do meu incômodo. Bater de volta, JAMAIS! 

Depois eu aprendi que não devo me meter na vida de gente que não entende de moda e sai de casa parecendo um acidente da natureza, pois é feio. Devemos deixar os outros viverem. Aí eu aprendi, na mesma aula da aprendizagem anterior, que não devemos apontar defeitos dos outros, pois é feio. É falta de educação interferir na personalidade do outro, ainda que ele seja um filho da puta; o povo diz que a vida vai dar o troco. 

Tô esperando. 

Aí, logo depois, me ensinaram que não posso falar a verdade, pelo menos não toda, pois é muito, muito, muito feio mesmo ser sincera. Dizem que há hora e lugar para a honestidade. Achei que ela era tipo Deus, onipresente... Pelo visto, me enganei. 

Aí umas pessoas enfiaram na minha cabeça que é muito feio, tipo horrível, ostentar ou pagar de rico, mesmo que essas pessoas adorem marcar #iphone em suas fotos no instagram. Eu peguei, nessa aula, a apostila HIPOCRISIA e aprendi um tantão com ela, inclusive que ela serve para vários módulos. 

Aprendi que não posso avisar a uma pessoa que ela está parecendo que engoliu uma nota de 50 reais ou que balançaram a fava debaixo do kikiu dela, pois é muito feio dizer que alguém tem bafo ou tá fedendo. Eu que aprimore meus conhecimentos de apneia. 

Aprendi que não posso gritar quando me dá muita raiva e vontade de quebrar o crânio de alguém que é escroto comigo, pois perco minha razão(?) e é muito feio se descontrolar, ainda que o outro estoure todos os decibéis humanos possíveis. Ah! Aprendi que devo disfarçar o quanto gosto de funk e pagode, pois isso não é bem visto. 

Aprendi, também, que devo sorrir para quem eu sei que é falso, pois disseram que a política da boa vizinhança é sempre o melhor caminho. Não é bom fazer inimigos... Quem sabe o dia de amanhã? 

Aprendi que é um crime sentir ciúme, pois algum solteiro retardado/encalhado inventou que tudo que é meu, voltará, então não preciso segurar nem preservar ninguém. Deixarei livre meus passarinhos para que se percam nas granjas da vida. Quem sabe ele volta? 

Sabe o que eu aprendi também? Que TENHO que amar todas as crianças do planeta, pois são anjos enviados por Deus. Não, não são não. Alguns não são MESMO. E velhinhos nem sempre são agradáveis! E não é por serem mais velhos que, automaticamente, merecem respeito. Eu encontro cada um por aí...

Me ensinaram no facebook que não posso enviar solicitações de joguinhos para ninguém, mas eu preciso de vidas, ok? Eu preciso de batatinha frita no criminal case, movimentos extras no candy crush e amigos para expandir minha terra no farmville, mas devo esperar até amanhã para carregar minhas energias e brincar sozinha. É feio incomodar as pessoas no facebook. Muito feio mesmo! 

Aprendi que dá cadeia ter celulite. Estria, pena de morte. 

Aí no meio do caminho percebi que estava aprendendo a não ser eu e refleti. Na minha frente há uma multidão de pessoas iguais e robotizadas, seguindo o fluxo para nowhere! Eu, sinceramente, não tenho que aprender a conviver com ninguém. Na verdade, fica por perto quem quer. Eu até gosto de ser eu, às vezes. Nas vezes que eu não gosto, eu sempre converso com alguém que gosta que eu seja eu, aí fica tudo bem.

A gente só precisa se entender. Eu me entender, você se entender. Chega disso de entender o outro. Se entenda e seja seu melhor amigo. As cores do seu mundo partem de você. Cuidado com o auto-controle, ele é um vício maldoso. Na hora da reflexão, opte por ser você. Um dia dá certo! :)

terça-feira, 2 de julho de 2013

Você sabe quem é o seu inimigo?

Você passará uma vida inteira, após a primeira decepção, procurando um algoz. Determinará, em cada vacilo de outrem, quem te importa e quem pode ficar para trás. Deslizará entre todos aqueles que atravessarem seu caminho com seus julgamentos intactos, muito bem resolvido com suas reflexões. Permanecerá fiel à sua mente inquieta, ao seu orgulho rochoso. Quem merece sua retórica? Quem alcança o seu perdão?

Caminha sobre pedras que você mesmo encaixou, forma, sob seus pés, uma trilha empoeirada de arrependimentos e lembranças que nunca te deixam ir totalmente além, muito menos reconhecer a necessidade de retroceder.

Aponta suas opiniões em uma linhagem cautelosamente imperativa. Ordena os seus passos, os outros passos, quem passa e quem já passou. Esconde seu rabo entre as lamúrias de um ser desajeitado, convicto de suas próximas pegadas, mas totalmente alheio ao processo de caminhar. 

Baterá o telefone como quem bate no rosto de um criminoso. Alçará pensamentos negativos por aquele que te deu amor. Desistirá de planos por falta de merecimento, negará abrigo a quem te abrigou. Ainda assim, inflará o peito de medos e fingirá uma coragem fragilizada, puro carnaval. Perseguirá todos os monstros em pessoas específicas, quebrará todos os vidros que protegem suas jóias, tudo em nome da moral. 

Vira oceano quando precisa da profundeza fria de sua zona abissal. Vira lago ao deparar-se com a necessidade impulsiva de voltar às suas origens. Transforma-se, rapidamente, em vento quando precisa ir embora. Quero ver se transformar em árvore: fincar raízes e permanecer. Aguentar a ventania, o abandono de suas folhas, o nascimento dos seus frutos, o furto dos seus galhos, os pássaros que te golpeiam e ficar ali.

Adianta? Adianta correr uma vida inteira atrás dos malfeitores quando o monstro mora em você? Adianta deixar-se sabotar na tentativa pífia e covarde de culpar os outros? Não pode ser tão doloroso assim olhar para dentro. Ou não deveria.

O destino do acusador é sempre a solidão. No fim de todos os dedos apontados, nem você sobrará. Tornar-se sincero consigo mesmo é o primeiro passo para viver em paz. Tornar-se sincero com os outros, é o primeiro passo para o paraíso. 

É importantíssimo descobrir quem é o monstro na sua frente. Mas nunca esqueça: você também é o monstro de alguém.




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