sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Intolerância.

*Pitaco isadorista no blog de Junio. Visitem!! 

Quando Junio me pediu para falar sobre intolerância nos dias de hoje, me peguei vasculhando minha memória no intuito de achar qual ponto do discurso cotidiano apresentava mais intolerância.

Há aspectos da nossa vida que são velhos conhecidos. A intolerância religiosa povoa qualquer ambiente. São católicos e cristãos fervorosos que pregam o fim do candomblé. São umbandistas que riem da fé cega dos evangélicos. Espíritas que são vistos como caçadores de fantasmas e wiccanos que nunca foram e, pelo visto, nunca serão levados a sério. Da mesma forma, há espíritas que desconsideram a importância dos cultos de natureza que os wiccanos promovem e evangélicos que não suportam as ideias budistas, além das religiões afro-brasileiras que são resumidas a macumbas e, ao mesmo tempo, consideram ignorantes aqueles que não compartilham suas crenças.

A intolerância étnica é outra velha amiga. São brancos que não querem se misturar. Negros que se apóiam na luta social para, de um modo equivocado, aplicar uma soberania de cor que tenta colocar todos os brancos, mestiços, pardos ou quem quer que não seja negro em um patamar de pouco envolvimento com a causa. Há nós, todos reunidos no carnaval, cantando de maneira irresponsável a marchinha O teu cabelo não nega, mulata, porque és mulata na cor. Mas como a cor não pega, mulata, mulata eu quero o teu amor.” sem sequer se dar conta das palavras proferidas. Há negros sendo humilhados e brancos sendo igualmente discriminados. Há índios que perdem espaço e nordestinos colocados na fogueira. Não há mais regra, ora só. São todos contra todos.

Depois de muito pensar, cheguei a uma conclusão. Taí! A intolerância é um sentimento muito mais humano do que eu poderia imaginar. Pois enquanto há alguém do outro lado da tela concordando com o que eu digo, esse mesmo alguém está, junto a mim, sendo intolerante também. Sou extremamente intolerante a pessoas intolerantes. E preciso admitir que na nossa sociedade a intolerância não é um monstro, posto que há intolerâncias permitidas, quiçá admiradas.

Será que o grande lance é o aumento ou a diminuição da intolerância nos dias atuais? Aliás, há sociedade sem intolerância? Bom, eu acredito que não. Eu sou extremamente intolerante com pessoas infantis. Sou intolerante com preguiça, pessoas lentas e gente que não liga para sujeira. Portanto, como me colocar numa posição de dona da palavra em uma discussão sobre intolerância, posto que eu seja uma detentora de tais modos terríveis? Já que nunca foi aceito que alguém que fale sobre preconceito, seja, em seu discurso, o que pratica e, sim, o que defende. Como se o preconceito só existisse na esfera das intolerâncias do senso-comum, por exemplo. Há, inclusive, uma campanha para que os “sem-noção” que escutam música em seus celulares comprem fones de ouvido para não incomodar os demais passageiros da condução. Não estaria aí uma intolerância? Ou você já viu alguém que goste de sertanejo reclamar pois alguém está ouvindo sertanejo ao lado?

Então, acompanhe o meu raciocínio. Há intolerâncias que são socialmente aceitas e, evoluindo para esse nível, são chamadas carinhosamente de boas condutas, de exemplos ou, quem sabe, de ideologias. As que não passam pela peneira do socialmente aceito, as “feias”, as que nós temos quando ninguém está olhando, são chamadas de preconceito, de discriminação.

Na verdade, feio mesmo não é você ser intolerante. Feio mesmo é você praticar sua intolerância na frente de falsos-tolerantes que não suportam ver alguém que age como si mesmo em situações tão públicas. Quantas vezes você já ouviu “tudo bem não se interessar por negros, mas não precisa ficar falando isso abertamente”. Bom, por que não? O problema tem o mesmo tamanho quando um homem diz que prefere loiras? A vergonha é de quem?

Acho, com tudo isso, que a intolerância não é o grande problema da modernidade. Pra mim, o grande problema é a hipocrisia. É possível, sim, só se identificar com o candomblé e não concordar com o que os católicos pregam. Mas é preciso assumir isso sem ferir ninguém. É possível, sim, ter preferência por ruivas ou gordinhos, mas é preciso achar uma forma de curtir esse prazer sem subestimar as outras opções. É só uma questão de não gosto, de não curto. E não de colocar os diferentes na forca.

Eu sei que a intolerância a que Junio se referia era a intolerância mais cruel, a que machuca, mas foi inevitável fazer esse raciocínio. Acho que o primeiro passo para a cura é nos apossar das nossas intolerâncias e assumi-las para, no claro, remediá-las.

Ass: Isadora, a intolerante.




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